Nada
melhor do que uma auto-análise. Ver suas ideias no passado e pensar ”poxa,
eu pensava desse jeito tão pequeno? Tão ingênuo?” ou até “poxa, sinto saudades
de conseguir pensar dessa forma esperançosa”.
Quando a gente cresce e começa a viver lá fora, a
trabalhar, estudar e conhecer gente das mais diversas cabeças e idades, nós
expandimos o nosso horizonte de forma um tanto desenfreada, há muita informação
vindo de todos os cantos, tanta que as vezes parece que a cabeça vai explodir.
A gente conhece pessoas com ideias bacanas, mas
também conhece muita gente sem noção ou escrúpulos, que não pensa duas vezes
antes de prejudicar ou magoar alguém apenas para o seu bel prazer. Isso de
início machuca bastante para quem não está acostumado, alguém como eu, mesmo
que não tenham feito nada comigo.
Sabe, um dos meus estilos de história favorito é
daqueles heróis que vencem graças a ajuda dos amigos, que lutam bravamente pelo
que acreditam ser o certo, com um final emocionante e feliz. Mas meus gostos
tem mudado um tanto, atualmente ando preferindo histórias que falam sobre as
várias faces que uma pessoa pode ter, aos extremos que ela consegue chegar por
alguém ou alguma coisa. Eu tenho pego um certo gosto pelo amargo agora, aquela
pitada de realidade na vida que antes eu separava do prato.
A uns três anos atrás eu estaria chorando porque a
Realidade entrou aqui, e eu chorei mesmo, não minto. Não conseguia ver o lado
positivo dela, apenas queria a Magia de volta, apenas as coisas doces e as
palavras inocentes que vinham dela, o conforto e as tardes mornas ausentes de
preocupações. Minha nossa, como eu era infantil.
Esse processo foi necessário, agora enxergo com mais
clareza do que nunca, a Magia não podia ter o lugar só para ela, havia chegado
a hora em que ela precisaria dividir a casa. Na época eu não aceitava, eu
achava que a Realidade pintaria tudo de cinza, a casa, os móveis… Eu. Nunca
parei para pensar que talvez a Magia nunca tivesse saído daqui, apenas dividiu
seu espaço, mas claro, eu nunca quis ouvir a Realidade.
"Ei, eu não expulsei ninguém, ela ainda está
aqui" tentava me explicar, mas eu parecia apenas entender "Ela nunca
mais vai voltar, me aceite e beba esse chá gelado e puro"
Hoje, ao reler textos antigos e olhar para dentro
depois de tanto tempo, notei que a Magia estava ali o tempo todo, conversando
com a Realidade enquanto tomavam café forte, depois jogavam baralho
amigavelmente. Hoje descobri que a Realidade não gosta de ser como é, que ela
também tenta escapar as vezes, como eu tentei por todos esses anos, que ela
também não aceita muitas coisas. E notei que a Magia gosta de aprender. A
partir desse dia, passei a entender como a Realidade e a Magia funcionavam
juntas.
E que eu poderia, afinal, ser realista, mas ao mesmo
tempo, feliz.
PS: Quando eu pensava na possibilidade de ser tomada
pelo cinza, a Realidade me respondeu (que na época não dei ouvidos):
É cinza quem se deixa tirar as outras cores.
E notei que ela não era assim tão cinza.
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